Frente aos bombardeios críticos - os quais considero de suma importância e realmente me preocuparia se extinguissem de vez - sobre política, economia, e moral, tenho a nítida impressão que a relevância com a sensibilidade tem perdido, cada vez mais, espaço para a exibição de argumentos bem ou mal colocados, ou ainda textualizações de problemas individuais. O que quero dizer, é que o sentir (na maior abstração da palavra) tem sido deixado para trás.
As mudanças faraônicas conseqüêntes dos caminhos traçados pelos modelos da sociedade atual são sabidas por todos, e seria senso comum demais repetir o velho jargão da " sociedade mecânica que automatiza os movimentos humanos". Em 1931, René Clair não só oralizava a listagem de malefícios, mas chegou a satirizá-la na peça de antecedeu "Tempos Modernos" de Charles Chaplin, a "À Nous La Liberté " ( A nós a liberdade). Mas podemos problematizar, ainda, todas as questões colocadas sobre tal remodelagem de mundo; podemos dizer que não bastasse o fato do homem automatizado, prático, e sem tempo ser montado, como agora este homem assemelha-se cada vez mais a um de seus projetos: as máquinas.
Pois, se a robótica se assemelha, cada vez mais, com o ser humano, o ser humano também caminha no sentido de encontro, assemelhando-se cada vez mais aos robôs. Adentramos à era do without feeling, e, como já de costume, o homem demora a perceber os danos causados por esta postura.
O espaço concedido ao abstrato está em extinção! Não parece lindo? Trabalhar sem parcialidades, dirigir para casa sem angústia ou entusiasmo, sem medo ou euforia, sem paixões ou decepções. Um processo que pode ser concebido como uma deshumanização! Ninguém é mais afetado pelos dolorosos tombos sentimentais, e ninguém se chateia mais perante injustiças, trapaças ou frustrações. O único inconveniente é que, na realidade do "tô nem aí", tornou-se quase impossível viver e, aí, muitos aprenderam a sobreviver.
Ainda que não tenha muita afinidade com provérbios, é indubitável que muitos são abstrações reais do funcionamento do mundo, e um deles diz assim: " O que é da terra o bicho não come". Neste caso, o sentir é inato à vontade humana, é independente ao desejo de alienar-se; e por mais alienado que possa tornar-se alguém, este nunca atingirá o máximo da abstração, pois muitos sentimentos são gerados por reações bioquímicas, que, por enquanto, nos fogem do completo controle.
Mas feeling é diferente disto. O feeling é também a capacidade de ponderação, a generosidade, a capacidade de comoção humana; e é este que torna-se cada vez mais raro. Por incrível que pareça, para mim ele é o primórdio e a síntese da raça humana e sua organização. É exatamente o que nos diferencia das outras espécies; o que move a história; e o que pode unir ou desunir povos. Uma vez ouvi que "o agir é muito diferente do sentir", mas sentir é indispensável para um agir correto, honesto e eficaz! Sentir nas oportunidades, nas ruas, no trabalho, na família.
Quando você deixa de sentir as coisas e passa apenas à ação, transforma-se na máquina e não condiz com a postura de um homem.
Pare para pensar, como anda o seu " feeling"?
terça-feira, 9 de outubro de 2007
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3 comentários:
Muito legal teu post larissa!
Achei bem interessante o tema e bem desenvolvido. Com boas referencias e talz.
eu já nao posto há muito, mas continue postando e me avisa, que venho ler!
beijos
Muito bom, com alto nível intelectual , o que hoje em dia anda difícil encontrar pensamentos únicos, pessoas com um certo conhecimento que provavelmente reflitem no processos habituais do ser humano. Parece expressar originalidade.
Já o 'feeling' , esse tá sumindo e faz tempo.
Gostei!!
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