segunda-feira, 2 de março de 2009

À dor de ser poeta

- E donde vem a inspiração?

- Ah... acho que escrevo bem mesmo na dor.

- Dor? Dor de quê?! Tipo de dente, de barriga?

- Não, não. Dor da alma. Daquelas que apertam o peito, anseiam e nem te deixam respirar direito. Dor de desilusão, de perda, de saudade... de amor de mão única, de amar sem ser correspondido. Entende?

- Sim. Acho que sim. Pra mim quando destas dor aí afliceta meu peito, remédio bão mesmo é a branquinha! Das veiz até cochilo no barcão e o Zé Pola manda recoiê eu lá pra casa. A Preta até vorta arrependida de te brigado com eu quando isso acontece. Hehehe...

- É seu Paulo... o senhor tem a Preta. Nesta vida acho que estive a maior parte do tempo fazendo companhia a mim mesmo. Algumas vieram, logo ou não tão logo se foram. Sobrou de verdade eu e minha alma de poeta. As prosas foram surgindo assim... nestas idas e vindas.

- Mas comé dotô, o senhor nunca teve arguém que revirasse memo tudo que tá lá drento do coração? Destas pessoa assim que te dexa cas perna bamba, a mão gelada... ca barriga esquisita?

- Já tive sim seu Paulo. Um verdadeiro e doído amor todos temos.

- Mas causo de quê tem de sê doído dotô?

- Por causa que não há romance sem dor seu Paulo. A melancolia é o que dá o charme do romantismo... a nostalgia... a busca. O problema é que as coisas não são eternas... e duas pessoas nunca se amarão em intensidade igual e ao mesmo tempo. Uma há sempre de estar conquistando a outra. Isto traz a frênesi de quando se consegue estar com aquele que ama. Por que achas que é tão bom às vezes só estar quietinho nos braços da pessoa amada?

- É dotô, acho que cê tá certo. Sabe, a preta e eu nos primero ano vivia se catracano com esses trem de conquistá. Das horas eu curria atrais dela, das hora ela tava doidinha por eu. No finar das conta, a gente foi se trupicano e acabamo no artar!

- É seu Paulo, quase cheguei nesse tal "artar". Acontece que com a gente foi mais difícil. Ela era Marie. Bela como um pôr do sol... perfumada feito uma flor.

- Ô dotô, se era igual o pôr do sor então era boa essa tar de Marie! Cum todo respeito.

- Hehehe. Era sim seu Paulo. Era sim.

- Mai então que que aconteceu dotô?

- Bom... a história é longa.

- E tamo aqui prosiano sem pressa dotô.

- É verdade seu Paulo... é verdade. Mas o que interessa nesta história toda é que havia me perguntado de onde vinha a inspiração. Pois então, todo artista carrega consigo uma ou algumas cicatrizes. A minha cicatriz deve ser esta. Atende por Marie.

- A bela do pôr do sor e cherosa feito frô?

- Ela mesma. Acho que pra todo o sempre escreverei à ela. À dor de sua falta. Ao aperto da saudade que tenho de sua companhia... da doce imagem de seu rosto... dos lábios rosados...

- Ô dotô, tá me dexano com os óio cheio d'agua. Mai que história triste seu dotô.

- Estes meus cansados olhos também já muito estiveram cheios d'agua seu Paulo. Com o tempo, a amargura da falta vira um belo sentimento saudosista. Faz-me homem mais maduro, calejado, poeta.

- A branquinha não ajuda dotô?

- Ajuda sim seu Paulo. Só que a "minha Preta" não estará em casa à minha espera, hehehe.

- Num há de se nada não dotô. A Lourdes cozinha pra nóis dois. Hoje o senhor janta lá em casa!

- Tá certo seu Paulo. Tá certo. Então, à nós!

- E ao amor dotô!

- Ao amor seu Paulo.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Mais um pouquinho de etileno!

Somos imaturos. Sempre que algo novo nos surge, muitas vezes quando se repetem... amadurecimento demora muito mais do que pensamos.
É fácil olhar aos outros e julgar os passos dados em falso, retrucar como deveria ter sido, como deveriam ter feito. O sentido do erro está principalmente na falta de frieza ao analisar situação da qual faz parte. A maturidade está em encontrar seu equilíbrio e atingir - conseguir!- o auto-controle. Muitas vezes sabe-se exatamente o que deve ser feito, mas passa longe de conseguí-lo.
Talvez por isso que os best-sellers ensinam (ou pelo menos, incessantemente, repetem) a cerca deste tal amor próprio. Na mais cruel realidade, é mais ou menos assim que se amadurece....

Erre... e com o tempo verá que muitos erros não te ensinam nada, até que seus fardos de consequência lhe passem a pesar.
Sofra. O sofrimento é inevitável, e caso não existisse, o êxtase do alívio também não teria sentido. O primeiro, qual nunca acaba, é um dos males com o qual se aprende a lidar com o tempo. Nunca desaparece...mas as mãos calejam, e tornar-se-á, talvez, menos doloridos os trajetos.
Ame, o suficiente para perder a respiração de felicidade. O suficiente para perder a respiração de medo... da perda, da falta... o medo passa, por que estas coisas chegam. Você talvez chore. Talvez sinta uma dor tão insuportável, e tão funda no peito, que depois de algum tempo, já anestesiada, o fará mais forte... ou tão mais fraco e covarde. Se voltar a este fraco e covarde também voltará dor ... e assim, em ciclos, até que cicatrizem... junto suas tantas outras marcas...
Vai ver que a vida não ensina. Vai ver que não existe frieza sem choque... vai ver que somos todos frágeis feito louça, até que de tanto conserto, nos tornamos fortes... ou no mínimo grosseiros o suficiente.

Mas erre. O erro te humano. Te faz vítima, e depois guerreiro. Rouba-lhe a glória, e depois de superado, devolve-lhe o orgulho.
O pragmatismo é inatingível.

Somos maduros suficientes para agir sempre da maneira correta se estivermos fora da conjuntura de qualquer situação. Enquanto pertencer a ela, tudo que concluiremos é o quanto temos que aprender.... por que estamos longe, muito longe, de conhercermos a nós mesmos.

domingo, 27 de julho de 2008

Sem culpados

Foi à toa. Enquanto ajeitava a colcha para deitar-se, tudo que passava por tua cabeça eram os anos corridos à toa. Os esforços findos em nada. Os jantares e vestidos que não duravam mais que o cheiro do perfume em seu pescoço.Por segundos enchia os olhos de lágrimas; não sabia se chorava a dor de não mais amar a ele, ou se chorava a memória que, tão machucada, não conseguia lembrar-se de quando amou.
E deitada, ele não demorou a chegar. Ela nem perdeu tempo em perguntar onde estivera, se já comera. Mal conseguia desejar que ele se virasse. Achava que queria que sentisse sua falta. A falta de tua presença, de tua assistência, de teu papel de mulher. Mas na realidade, nem mais se importava com isso. Secou-se, em todos os sentidos, para aquele homem.
Ele resmungou algo quando se dirigia ao banheiro. Ela fingiu nem ter ouvido. Os pensamentos infreáveis tomavam sua cabeça, como acontecia todas as noites, desde muito tempo. Havia horas que acreditava não mais poder continuar, em outras temia botar ponto em tudo aquilo. No final das contas, ele fumava, deitava-se e, de vez em quando, a importunava até tomar seu sexo. Como dito, de vez em quando.
Fora nesta noite, que ainda cheirando a cigarro, deitou-se de barriga para cima pigarreando sem parar, e anunciou:
- Deitei-me com Angélica.
Angélica era sua filha mais velha. Fruto de um amor desmedido de sua adolescência. Amor este que pensara erradamente ter superado. Nunca superou. Angélica era seu tesouro, garota problemática. Mas seu tesouro.
Sem titubear, levantou-se, dirigiu-se à porta do quarto e retrucou:
- Se pela manhã te encontrares deitado nesta cama, não bote à prova, estará descansando tua morte. De certo, por uma facada minha em teu peito.
Ele riu e vestindo as calças se levantou. Quase à saída de casa lançou:
- A culpa é tua. Ficaste amarga sem te lembrar do doce fruto que guardava a porta ao lado. Ela me lembrou à mãe.
Tendo ele saído em seguida, suas forças só a levaram à dispensa. Buscou seus calmantes, encheu dois palmos deles, e tragou-os. Não eram vitaminas.
Morera nesta noite, vítima de overdose. Vítima de seu casamento. Vítima de sua covardia. Portanto, não mais vítima.

sábado, 26 de julho de 2008

Amarras

Certa vez ouviu que os depressivos nao se deixavam ser felizes. E no instante seguinte passou decifrar-se como tal. Mas qual a seriedade daquilo?

Imediatamente espaireceu. Tocava musica bela e enebriante na TV, quase falhando, ligada ao fundo do comodo. Mas como sempre a musica a embebeu em drama, seguido de saudade e choro calmo, inconformado, porem quieto. O irremediavel, findo esta. E assim seguiu, por mais tantas horas, ate, como de costume, cansar-se da lamuria e assumir suas tarefas.

Nao mudava. Nao importava o que passasse. Nao mudava.

Assumia-se dona de um tracado do destino; inerente a este, e vitima de uma senteca por hora cruel, mas que lhe traria de volta tudo aquilo que tivera dantes.

Um dia ouviu, de alguem que, na mais pura verdade, queria seu bem.

"Nao mais chore doce. Nao mais se curve ao que te corroe por dentro, se todas as justificativas desta dor se passarem ao subjetivo. Ate onde seguira este caminho que te algema, te amarra a uma ilusao de vida, de cumplicidade? Esta que deixara a lealdade de lado, e todo o resto de sua essencia ha muito tempo.

Se nao mais te sofras doce. Nao mais te deixe levar pelos cortes que a saudade abre. Nao vivas mais a espera de algo que os cure.

Cura a ti sozinha, na forca. Na busca; nao do dubitavel que acomoda um pouco ao coracao, mas na busca da compreensao de que, isto que doi, e irreal e findo.

Nao te julgue destinada a nada. Constroi teu destino. Fugindo do que te diminui, dia-a-dia, pela vivencia de algo que nao mais existe; pela ilusao de uma vida que nao e tua."

Esqueceu-se um pouco do que a aflingia e levantou-se, depois, para a mudança. Direcionou-se à felicidade. Nao era depressiva. Era mais uma saudosista de um tempo bom, e ingenua demais para deixa-lo para tras a procura de melhores.

domingo, 27 de janeiro de 2008

Sobre Romeus e Julietas

Almas gêmeas. Acreditas na velha história de que cada um tem a sua alma gêmea? A sua cara metade, o q que te completa? Muitos defenderiam que sim, outros muitos que não, e uma boa parte estaria ainda cambaleando entre as duas respostas, com muita paixão, então ora afirmando, ora negando. Digo que acredito em algo deste gênero. Mas acredito que esta parte que nos falta jamais se ficará conosco para sempre.

O que quero dizer é que ainda que encontre alguém realmente especial, como aquele que te faz arrepiar da ponta do dedo ao último fio de cabelo, no momento em que adentra o mesmo cômodo em que está, não ficará com ele para o teu sempre.
Aquele que te completa desperta todos seus extremos, e nestes todos estão incluidos os bons e os ruins. Por isso não terminamos, no sentido de não construir uma vida juntos, com este alguém.

Encontrar sua alma gêmea não exige esforço, e nem é tido através disto; é tão natural quanto teus batimentos, ou os movimentos de seu diafrágma. Sabe quando acontece. Mas deixa de controlar o que está por vir.

O único momentos em que juras de amor eterno são realmente válidas. E o único momentos em que o medo da perda é realmente intenso e real. É o único momento em que a sensação de que nunca mais sentirá aquilo por ninguém é honesta. É o momento mais quente, mais petrificante, mais eufórico e extasiante que alguém pode ter. É o tudo! É a frênesi mais intensa que vai ter. São seus minutos, suas horas e seus dias mais excitantes.
É o frio na barriga mais forte que já sentiu em toda a vida. É a gaguejada sucedida do entendimento mútuo. É a captação da força mais clara num olhar. É seu primeiro e único vôo. É a perda do chão, dos sentidos, do juízo, da ponderação e da consciência.

Ao lado dela não há espaço para a moral, para a razão, para o pensamento ou qualquer outra coisa. Ao lado dela tudo flui e acontece sozinho... à telepatia. E tudo basta! Ao lado dela é só "estar ao lado dela" que realmente importa, e não há motivos para preocupar-se com qualquer outra consequência. Ao lado de sua alma gêmea tudo é permitido para que ambos se matenham sempre lá.

Ela capta seus sinais, entende sua fala, seus ruídos, suas necessidades, seus desejos. É o físico e o espiritual em suas maiores atrações. Vence a gravidade, a sociedade, as leis da física, as leis dos homens e derruba todos os postulados.

Mas é também a sentença. A mais dolorosa, cruel e triste sentença que alguém pode ter. Começa com o final anunciado. É só analisares que algo que te leva aos extremos com tamanha voracidade não pode ser teu habitual. Infelizmente, o corriqueiro do dia-a-dia não poderia ser vivido em sua máxima. Skakespeare já contava que a paixão mais bela e incontrolável culmina no desastre; conheça Romeu e Julieta, e não é preciso dizer mais nada.

Aquilo que te leva ao êxtase é também aquilo que te leva à mais forte irracionalidade. E é por isso que, dentro dos rumos normais - vez que estes mesmo já não são nem de longe os mais corretos- não se pode viver ao lado de sua alma gêmea.

A dor é imensa e eterna. Mas é o preço que se paga pela jóia do que foi vivido.

Eu não escolheria por não ter passado por tudo... e você?

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Onde está nosso "feeling"?

Frente aos bombardeios críticos - os quais considero de suma importância e realmente me preocuparia se extinguissem de vez - sobre política, economia, e moral, tenho a nítida impressão que a relevância com a sensibilidade tem perdido, cada vez mais, espaço para a exibição de argumentos bem ou mal colocados, ou ainda textualizações de problemas individuais. O que quero dizer, é que o sentir (na maior abstração da palavra) tem sido deixado para trás.
As mudanças faraônicas conseqüêntes dos caminhos traçados pelos modelos da sociedade atual são sabidas por todos, e seria senso comum demais repetir o velho jargão da " sociedade mecânica que automatiza os movimentos humanos". Em 1931, René Clair não só oralizava a listagem de malefícios, mas chegou a satirizá-la na peça de antecedeu "Tempos Modernos" de Charles Chaplin, a "À Nous La Liberté " ( A nós a liberdade). Mas podemos problematizar, ainda, todas as questões colocadas sobre tal remodelagem de mundo; podemos dizer que não bastasse o fato do homem automatizado, prático, e sem tempo ser montado, como agora este homem assemelha-se cada vez mais a um de seus projetos: as máquinas.
Pois, se a robótica se assemelha, cada vez mais, com o ser humano, o ser humano também caminha no sentido de encontro, assemelhando-se cada vez mais aos robôs. Adentramos à era do without feeling, e, como já de costume, o homem demora a perceber os danos causados por esta postura.
O espaço concedido ao abstrato está em extinção! Não parece lindo? Trabalhar sem parcialidades, dirigir para casa sem angústia ou entusiasmo, sem medo ou euforia, sem paixões ou decepções. Um processo que pode ser concebido como uma deshumanização! Ninguém é mais afetado pelos dolorosos tombos sentimentais, e ninguém se chateia mais perante injustiças, trapaças ou frustrações. O único inconveniente é que, na realidade do "tô nem aí", tornou-se quase impossível viver e, aí, muitos aprenderam a sobreviver.
Ainda que não tenha muita afinidade com provérbios, é indubitável que muitos são abstrações reais do funcionamento do mundo, e um deles diz assim: " O que é da terra o bicho não come". Neste caso, o sentir é inato à vontade humana, é independente ao desejo de alienar-se; e por mais alienado que possa tornar-se alguém, este nunca atingirá o máximo da abstração, pois muitos sentimentos são gerados por reações bioquímicas, que, por enquanto, nos fogem do completo controle.
Mas feeling é diferente disto. O feeling é também a capacidade de ponderação, a generosidade, a capacidade de comoção humana; e é este que torna-se cada vez mais raro. Por incrível que pareça, para mim ele é o primórdio e a síntese da raça humana e sua organização. É exatamente o que nos diferencia das outras espécies; o que move a história; e o que pode unir ou desunir povos. Uma vez ouvi que "o agir é muito diferente do sentir", mas sentir é indispensável para um agir correto, honesto e eficaz! Sentir nas oportunidades, nas ruas, no trabalho, na família.
Quando você deixa de sentir as coisas e passa apenas à ação, transforma-se na máquina e não condiz com a postura de um homem.
Pare para pensar, como anda o seu " feeling"?